Sobre a marca de Caim

"Passaram a dizer que os homens assim marcados eram pessoas suspeitas e ímpias, o que, na verdade, ocorria. Pois os homens corajosos, as pessoas de caráter, sempre inquietaram os demais. Tornavam-se, portanto, francamente incômoda  a existência de uma raça especial de homens sem medo e capazes de infundir medo aos demais, e então lhes atribuíram um apodo e uma lenda amarga para se vingarem daquela raça e justificarem de certo modo os temores sofridos (...) minha opinião é que Caim era um homem honrado, e lhe arranjaram essa história porque o temiam (...) A crua realidade foi esta: o homem forte matou o homem mais fraco. Talvez tenha sido um feito heroico, talvez não. Seja como for, os outros homens fracos sentiram medo e se uniram em seus clamores contra o fratricida; mas quando lhes perguntavam por que não o prendiam ou o justiçavam, em vez de responderem "Porque somos uns covardes", respondiam: "Impossível! Ele tem um sinal! Está marcado por Deus."

Demian, Hermann Hesse
p.32 e 33

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“Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” (Dostoiévski)