Os Sobreviventes


Do livro Morangos Morfados, de Caio Fernando Abreu
[Para ler ao som de Ângela Ro-Ro]

Para Jane Araújo, a Magra.




"Quanto a mim, a voz tão rouca, fico por aqui mesmo comparecendo a atos públicos, pichando muros contra usinas nucleares, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Teresa de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha-de-centro em junco indiano que apóia nossos fatigados pés descalços ao fim de mais outra semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados. 


Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trepar, porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sociopolíticos existenciais e bababá em comum só podiam era dar mesmo nisso: cama. Realmente tentamos, mas foi uma bosta. Que foi que aconteceu, que foi meu deus que aconteceu? Eu pensava depois acendendo um cigarro e não queria lembrar, mas não me saía da cabeça o teu pau murcho e os bicos dos meus seios que nem sequer ficaram duros, pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela primeira vez na vida, eu disse, e não sei se você acreditou. Eu quero dizer que sim, que acreditei, mas ela não pára, tanto tesão mental espiritual moral existencial e nenhum físico, eu não queria aceitar que fosse isso: éramos diferentes, éramos melhores, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos mais, éramos vagamente sagrados, mas no final das contas os bicos dos meus peitos não endureceram e o teu pau não levantou. Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais (...) 


Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? Naquele bar infecto onde costumávamos afogar nossas impotências em baldes de lirismo juvenil, (...) não, não tenho nada contra decadentes em geral não tenho nada contra qualquer coisa que soe a uma tentativa. Eu peço um cigarro e ela me atira o maço na cara como quem joga um tijolo, ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais.


Eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz. Podia ter dado certo entre a gente, ou não, eu nem sei o que é dar certo, (...) ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castafieda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos tolos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean-Paul nos 50 em Paris, 60 em Londres ouvindo 'here comes the sun here comes the sun little darling', 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54, 80 a gente aqui mastigando esta coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse azedo na boca.  


Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê? não é plágio do Pessoa não, mas em cada canto do meu quarto tenho uma imagem de Buda, uma de mãe Oxum, outra de Jesusinho, um pôster de Freud, às vezes acendo vela, faço reza, queimo incenso, tomo banho de arruda, jogo sal grosso nos cantos, não te peço solução nenhuma, você vai curtir os seus nativos em Sri Lanka depois me manda um cartão-postal contando qualquer coisa como ontem à noite, na beira do rio, deve haver uma porra de rio por lá, um rio lodoso, cheio de juncos sombrios, mas ontem na beira do rio, sem planejar nada, de repente, sabe, por acaso, encontrei um rapaz de tez azeitonada e olhos oblíquos que... Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos, fiz seis anos de análise, já pirei de clínica, lembra? Você me levava maçãs argentinas e fotonovelas italianas, Rossana Galli, Franco Andrei, Michela Roc, Sandro Moretti, eu te olhava entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário, positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá. 


As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo? Mato, não mato, atordôo minha sede com sapatinhas do Ferro’s Bar ou encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, neste apartamento que pago com o suor do po-ten-ci-al criativo da bunda que dou oito horas diárias para aquela multinacional fodida. Mas, eu quero dizer, e ela me corta mansa, claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o cvv às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? 


Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era, eu então estendo o braço e ela fica subitamente pequenina apertada contra meu peito, perguntando se está mesmo muito feia e meio puta e velha demais e completamente bêbada, eu não tinha estas marcas em volta dos olhos, eu não tinha estes vincos em torno da boca, (...)  e eu repito que não, que nada, que ela está linda assim, desgrenhada e viva, ela pede que eu coloque uma música e escolho ao acaso o noturno número dois em mi bemol de Chopin, eu quero deixá-la assim, dormindo no escuro sobre este sofá amarelo, ao lado das papoulas quase murchas, embalada pelo piano remoto como uma canção de ninar, mas ela se contrai violenta e pede que eu ponha Ângela outra vez, e eu viro o disco, amor meu grande amor, caminhamos tontos até o banheiro onde sustento sua cabeça para que vomite, e sem querer vomito junto, ao mesmo tempo, os dois abraçados, fragmentos azedos sobre as línguas misturadas, mas ela puxa a descarga e vai me empurrando para a sala, para a porta, pedindo que me vá, e me expulsa para o corredor repetindo...


Não se esqueça então de me mandar aquele cartão de Sri Lanka, aquele rio lodoso, aquela tez azeitonada, que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando. A chave gira na porta. Preciso me apoiar contra a parede para não cair. Por trás da madeira, misturada ao piano e à voz rouca de Ângela, nem que eu rastejasse até o Leblon, consigo ouvi-la repetindo e repetindo que tudo vai bem, tudo continua bem, tudo muito bem, tudo bem. Axé, axé, axé! eu digo e insisto até que o elevador chegue axé, axé, axé, odara!"



(ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.)

A chave.



"Então resolvi fingir não causar mais comoção
E se era pra rir/ Por que eu chorei então?
E se não era pra ser/ Por que insistir então?
Mas se não era pra ser/ Por que insistir então?
Depois de um tempo me recuperei
Levantei minha auto-estima
Resolvi sair por cima
Sem pensar que também errei

E quando eu quis sair/ Você voltou
Apareceu de novo
Quando quase não havia mais você em mim/Você voltou
Quando enfim pensei que eu tava livre/ Você voltou
Aah, aah!

E a nossa história
O que vai acontecer?
Seja o que Deus quiser
Venha o que vier
Da forma como for
Ah, eu aceito
Eu aceito, amor."

[Bárbara Eugênia]





Foi há 03 anos atrás

Há 03 anos eu conheci um cara, um cara que estudava inglês e contava piadas sem graça. De vez em quando apreciava uma aguardente no fim das aulas e tinha um jeito debochado de ser. Eu só o observava de longe e não tinha tanto interesse em conhecê-lo melhor. Talvez algo conspirava contra minha decisão, depois de uma viagem para os confins do sertão, acabamos conversando sobre Pink Floyd e outras coisas... Ficamos amigos, trocamos MSN, e a vontade de se ver crescia mais e mais, reciprocamente. Numa tarde de outubro combinamos de ir à praia, o dia estava lindo... céu claro, mar azul, fim de tarde, pôr do sol regado à cervejas, cigarros e batata frita. Lembro que eu ainda gostava de fumar Gudang Garam e ele, o seu velho Hollywood, foi então que algo mágico aconteceu, tudo virava virtude, admiração... Depois de uma conversa que se estendeu até a noite, eu senti muita vontade de fazer parte daquele mundo, um mundo que eu sempre havia procurado. Tive a sorte de ter a permissão de flutuar pelo mundo dele. Um mundo que me fez gradativamente uma pessoa bem melhor.

A descoberta, um novo mundo, novas sensações, permissibilidades... momentos. Doçura, simplicidade, dedicação, companheirismo, compreensão. Sorrisos, emoções, lágrimas, dor. Somos desejo e paz, mas também uma mistura agridoce. Afinal, quem aguentaria cair na monotonia de ser feliz o tempo inteiro?

Este texto é uma celebração. Hoje fazem 3 anos que nos conhecemos melhor. Escrevi isso pensando em quase tudo que vivi ao lado dele, bons momentos. 

A vida é doce, depressa demais!

Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento no seu último vestígio, no território da sua presença, impregnando tudo que eu não posso, nem quero deixar que me abandone.
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro, no presente que tritura as sirênes que se atrasam pra salvar atropelados que morreram, que fugiam, que nasciam, que perderam, que viveram tão depressa... A vida é doce, depressa demais.
E de repente o telefone toca e é você do outro lado me ligando, devolvendo minha insônia minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui a coisa mais brega que pousou na tua sopa. Me perdoa daquela expressão pré-fabricada de tédio, tão canastrona que nunca funcionou, nem funciona...
Me perdoa, a vida é doce.

[Lobão]

Sobre a imaginação


Das faculdades humanas a imaginação é a mais preciosa, exatamente por sua imensa capacidade de nos manter suspensos ou de nos apaziguar perante a adversidade; (...) relendo antigos tratados de retórica, Edmund Burke mostrava, em meados do século XVIII, estar na imaginação a esfera mais vasta do prazer e da dor, por sediar a região de nossos medos e de nossas esperanças, de todas as nossas paixões, e deter a imaginação o poder maior na produção da felicidade, pouco afeita ao restrito domínio da razão.

As máscaras do medo: lepra e Aids
Ítalo A. Tronca - p.13

Os sapatos da Camponesa

Os sapatos da Camponesa - Van Gogh

Da escura abertura do gasto interior do calçado olha-nos fixamente a fadiga do andar do trabalho. Na dura gravidade do calçado retém-se a tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que sempre iguais se estendem longe pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro fica a umidade e a fartura do solo. Sob as solas demove-se a solidão do caminho do campo pelo final da tarde. No calçado vibra o quieto chamado da terra, sua silenciosa oferta do trigo maduro, sua inexplicável recusa na desolação do campo no inverno. Por esse utensílio passa o calado desassossego pela segurança do pão, a alegria sem palavras por ter mais uma vez suportado a falta, a vibração pela chegada do nascimento e o tremor ante o retorno da morte.

Fragmento do livro "A Origem da Obra de Arte", Heidegger.

Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias

Quero só noticia boa/ também daquela pessoa, oba.
Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará
Com um nariz de palhaço
Rirei de tudo que me fazia chorar
Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos
Na outra abraços e parabéns...


Vanessa Mata.


Recorte da obra Serpentes d'Água II - Gustav Klimt





A Desobediência Civil

Nessas minhas andanças por aqui e por aí, acabei topando com dois textos que me afetaram profundamente. E como de costume, não poderia deixar de compartilhar.
O primeiro é um fragmento tirado de "A Desobediência Civil" de Henry David Thoreau, escrito em 1848, impressiona por ser tão atual:

"Há seis anos que não pago o imposto per capita. Fui encarcerado certa vez por causa disso, e passei uma noite preso; enquanto o tempo passava, fui observando as paredes de pedra sólida com dois ou três pés de espessura, a porta de madeira e ferro com um pé de espessura e as grades de ferro que dificultam a entrada da luz, e não pude deixar de perceber a idiotice de uma instituição que me tratava como se eu fosse apenas carne e sangue e ossos a serem trancafiados. Fiquei especulando que ela devia ter concluído, finalmente, que aquela era a melhor forma de me usar e, também, que ela jamais cogitara de se aproveitar dos meus serviços de alguma outra maneira. Vi que apesar da grossa parede de pedra entre mim e os meus concidadãos, eles tinham uma mu­ralha muito mais difícil de vencer antes de conseguirem ser tão livres quanto eu. Nem por um momento me senti confinado, e as paredes pareceram-me um desperdício descomunal de pedras e argamassa. O meu sentimento era de que eu tinha sido o único dos meus concidadãos a pagar o imposto. Estava claro que eles não sabiam como lidar comigo e que se comportavam como pessoas pouco educadas. Havia um erro crasso em cada ameaça e em cada saudação, pois eles pensavam que o meu maior desejo era o de estar do outro lado daquela parede de pedra. Não pude deixar de sorrir perante os cuidados com que fecharam a porta e trancaram as minhas reflexões - que os acompanhavam porta afora sem delongas ou dificuldade; e o perigo estava de fato contido nelas. Como eu estava fora do seu alcance, resolveram punir o meu corpo; agi­ram como meninos incapazes de enfrentar uma pessoa de quem sentem raiva e que então dão um chuto no cachorro do seu desafeto. Percebi que o Estado era um idiota, tímido como uma solteirona às voltas com a sua prataria, incapaz de distinguir os seus amigos dos inimigos; perdi todo o respeito que ainda tinha por ele e passei a considerá-lo apenas lamentável."

Banksy


O segundo fragmento, do livro "Movimentos Culturais de Juventude" de Antônio Carlos Brandão e Milton Fernandes Duarte, aborda exatamente essa temática. Enfatizando a luta de M. Luther King que segundo os autores, era um seguidor da desobediência civil pacífica assim como Mahatma Gandhi e Leon Tolstoi: 

"...acreditavam que o Estado nunca enfrentaria deliberadamente o cidadão do ponto de vista moral ou intelectual. Ao contrário, o Estado e seus aparelhos repressores (polícia, exército, etc.) atacariam o corpo do indivíduo, usando sua grande capacidade de praticar a violência física, pois não possuíam, sequer, inteligência considerável ou honestidade para que tal prática fosse evitada e tais movimentos não se alastrassem. Portanto, o único meio de lutar contra essa poderosa máquina de violência e repressão seria inventar e aplicar táticas inteiramente diferentes das cultuadas pelo Estado, ou seja, a "não-violência". (p.47)

"...Os resultados dessa campanha de desobediência não-violenta podiam ser vistos, por exemplo, na fase final do movimento, quando jovens negros corriam atrás de policiais para ser presos,  pois as celas estavam lotadas e a cadeia, naquele momento, tornara-se símbolo das pessoas que defendiam a liberdade em uma sociedade dominada pela intolerância racial. Essa inversão de valores acabou confundindo os aparelhos de repressão, levando-os, até mesmo, a não cumprir sua função, já que seus inimigos não usavam as mesmas armas." (p.48)

Eu não sei porquê.

Eu não sei se o que eu sinto é só meu. Eu não sei porquê a nossa conversa flui. Eu não sei porquê toda vez que eu te encontro me sinto mais esperta. Eu não sei porquê quando conversamos eu não me cobro tanto. Eu não sei porquê você compreende minhas fraquezas. Eu não sei porquê ao seu lado eu não tenho vergonha de ser ridícula. Eu não sei porquê eu gosto de ficar do teu lado, mesmo que seja calada, só te ouvindo. Eu não sei porquê simplesmente eu me sinto bem. Eu não sei porquê só você me inspira e me faz criar oportunidades e as torná-las realidade. Eu não sei porquê eu sinto prazer em simplesmente tê-lo no meu dia. Não sei porquê com você eu tenho paciência. Não sei porquê eu te espero. Não sei porquê eu sempre cedo. Não sei porquê quando eu ouço as canções que eu gosto, eu só lembro de você. Não sei porquê os meus melhores textos, minha melhor inspiração só acontece quando estou com você e por você.

Não sei porquê, com você eu não me imagino sozinha, numa casa antiga, sentada numa cadeira rústica e lendo livros; pelo contrário, um fio de esperança me faz acreditar que tudo será diferente e muito melhor. Eu não sei porquê estar longe de você é como se eu estivesse longe de mim mesma, longe do meu melhor. Eu não sei porquê só você me faz chorar de alegria. Eu não sei porquê eu ruborizo e fico com a mão gelada quando te vejo. Eu não sei porquê você encara tudo isso com naturalidade e me deixa à vontade.

Eu deixei você. E você me deixou seu cheiro doce e essa inspiração. Escrevo esse texto num só suspiro. Sei que vamos conversar novamente, sobre qualquer coisa - nova ou velha - e quem sabe, eu volte a escrever.

O ser e o nada

... se  o  amado  pode  nos  amar,  esta  prestes  a  ser assimilado  por  nossa  liberdade:  porque  esse  ser-amado  que  cobiçamos  já  é  a  prova  ontológica aplicada  a  nosso  ser-para-outro.  Nossa  essência  objetiva  implica  a  existência  do  Outro,  e reciprocamente, é a liberdade do outro que fundamenta nossa essência. “Se pudéssemos interiorizar todo o sistema, seríamos nosso próprio fundamento”.

(Jean-Paul Sartre)
Fonte: fengshuibrasil

O fim das buscas.




Talvez Deus seja a revelação final. Esse ser abstrato e com tantas formas pode ser a única significação na vida dos homens, a paz, o sentido da vida. O problema é encontrar esse Deus. Já ouvi pessoas falarem que Deus é como o sol, está em todos os lugares; como o vento, onde todos podem senti-lo; outros falam que Deus é uma floresta com lindas montanhas ou aquela velha imagem clichê de um homem com barba e longos cabelos brancos. Muitos acreditam que sem esse processo (busca e revelação) nosso destino seria vazio, seríamos como um bando de animais, sem conforto espiritual e sem sabedoria. Aí esta a importância da "revelação", sem ela a vida é inútil, seja qual for o grau de poder e nascimento de um indivíduo.

Caixinhas mágicas

Com um velho jeans, camiseta de banda de rock e mochila, um cara sai a pé de casa e carrega consigo seriguelas, um mp3 com rock'n roll e duas caixinhas mágicas. Ele vem ao meu encontro.
Com um velho vestido e chinelos, atendo a porta. E me alegro com aquela visita inesperada.

- Oi. Quer sair?
- Oi. Não te esperava... Que lugar iremos?
- Sei lá, qualquer lugar. "Vamo"?
- Espera.

Não demoro. Pego as chaves de casa e saio do jeito que estou. Caminhando e conversando, como dois amigos de infância, fazemos desse dia o melhor das nossas vidas. Gosto dessas situações surpreendentes. Existe tempo para a alegria? Para a juventude? Para se permitir? É muito lindo num relacionamento - tendo ele envolvimento íntimo ou não - a vontade de estar junto, a atenção, o respeito. O que é mais importante na vida? A reciprocidade é uma benção.

Ser louco ou ser livre?

A sociedade tende a tachar de "louco" pessoas que não compactuam com os padrões preexistentes. Tacham de "demônio" aqueles que contestam verdades envoltas por tabus e dogmas. Outros, todos os dias pagam com suas vidas o preço da intolerância, da ignorância... Por enuciarem o prazer, por romperem com a lógica burguesa-cristã conservadora e moralista. Pessoas são dizimadas simplesmente por fazerem do corpo um templo do prazer. O que há de errado nisso?


E o meu coração embora finja fazer mil viagens.
Fica batendo, parado, naquela estação...

 
(Adriana Calcanhoto)

Celebração

Sei que toda a história do homem foi marcada por interesses, desigualdades, hipocrisia e incontáveis episódios de desrespeito com os mais 'fracos'. Perfeição da Legião Urbana é uma música do século passado, mas impressiona pela letra atual. A verdade é que as relações de poder continuam a tecer a vida humana. O tempo passa e quase tudo se tranforma e ganha novos significados. Lamentavelmente Perfeição é só mais um grito de indignação.

"Vamos celebrar a estupidez humana/ Vamos celebrar a estupidez do povo/ Vamos celebrar nosso governo/ Celebrar a juventude sem escolas/ Celebrar nossa desunião/ Vamos celebrar Eros e Thanatos/ Persephone e Hades/ Vamos celebrar nossa tristeza/ Vamos celebrar nossa vaidade/ Vamos comemorar como idiotas/ Vamos celebrar nossa justiça/ A ganância e a difamação/ Vamos celebrar os preconceitos/ Toda a hipocrisia e toda a afetação/ Todo roubo e toda indiferença/ Vamos celebrar a fome/ Não ter a quem ouvir/ Não se ter a quem amar/ Vamos alimentar o que é maldade/ Vamos machucar o coração/ Vamos celebrar nossa bandeira/ Nosso passado/ De absurdos gloriosos/ Tudo que é gratuito e feio/ Tudo o que é normal/ Vamos celebrar nossa saudade/ Comemorar a nossa solidão/ Vamos festejar a inveja/ A intolerância, a incompreensão/ Vamos festejar a violência/ Vamos celebrar a aberração/ De toda a nossa falta de bom senso/ Nosso descaso por educação/ Vamos celebrar o horror de tudo isto/ Com festa, velório e caixão/ Tá tudo morto e enterrado agora/ Já que também podemos celebrar/ A estupidez de quem cantou essa canção..."

(trechode'perfeição'/ RenatoRusso)

Amigos como antigamente.


O que há de mais fascinante nas pessoas? A resposta talvez seja os seus vários “eus”, essa capacidade incrível de mudança, de adaptação. O que seria de nós, meros mortais, se não fosse a capacidade de mudar? Acredito que exista um espectro ou algo indizível, inexplicável que se faz presente entre nós e que, com um sopro, permite que as pessoas possam entrelaçar seus caminhos. Aí esta a maior beleza, os encontros que a vida nos proporciona surpreendentemente. Essa teia invisível, é capaz de no presente, nos fazer voltar ao passado, projetando algo para o futuro. Futuro incerto, aliás.
 Imagine um cara que você nunca viu na vida, bate na porta da sua casa com a desculpa mais esfarrapada do mundo (crie qualquer desculpa esfarrapada). Conversa vai, conversa vem, esse estranho passa a fazer parte da sua vida. Torna-se amigo dos seus amigos, almoça na sua casa e começa a ser o queridinho dos seus pais. Cada encontro um novo prazer, uma ruma de livros (5 ou mais),  ele se torna insubstituível num ritmo alucinante.
"Sobrenaturalmente" o cara some. Ficou um buraco. O jeito foi readaptar-se, hoje sei que sua aparição foi um preparo para aguçar minha percepção diante de certas circunstâncias pela qual eu teria que passar. Confesso que no seu lugar ainda esta um vazio, foi uma amizade inusitada, eu me sentia protegida, assim também com outros amigos que ficaram pelo caminho. Hoje eu senti muita falta do Dodô, Alessandro, Filho, Cau, David, Júnior, Edson e Janaína.
 Amizade real. Contato real. Instantes de sabedoria e amor. Sinto falta das horas inoportunas, das esperas, dos segredos ingênuos, olhar o céu conversando até dormir, dançar num quartinho apertado, das dicas de música e leitura, das confissões tarde da noite, das surpresas e novidades. Ainda bem que eu conheci todos eles, e sou muito feliz por eles terem deixado na minha vida as melhores lembranças, que muitas vezes serviram e ainda servirão, para aquecer meu coração quando eu estiver me sentindo tão sozinha...

Eu te amo?

Hoje olhando minha caixa de e-mail vi uma mensagem intitulada "antes do orkut" que retratava entre outras coisas que o eu te amo estava banalizado. Claro, o e-mail generalizava e sabemos muito bem que ao mesmo tempo que supostamente o "eu te amo" esta banalizado, praticamente esquecemos o AMOR, a sua essência. Em seguida, por coincidência ou não, vi uma postagem com o título "o que é o amor?" num blog que eu gosto muito de visitar, o blog do Ozaí.

Falar de amor não é tão piegas, cafona ou mesmo banal. Amar não é tão simples. Segundo Ozaí "É extremamente complexo compreender as razões do amor. Por que entre milhares de seres humanos a paixão direciona-se a alguém particular? O que torna esse alguém tão especial? (...) Por que este sentimento se impõe a despeito das impossibilidades ditadas pela razão?"

Uma vez me perguntaram o que era o amor, e eu não soube responder. Não sei, mas creio que dentre outros e vários aspectos o amor não tem nada a ver com a razão, é inexplicável e pode até adquirir muitas facetas: ser imperfeito, suicida, obsceno, puro, casto, amigo, tímido... depende de quem sente, depende de quem interpreta... porém, ele é incontrolável, nada pode detê-lo.

Link do post do Ozaí: "O que é o amor?"


O mundo é de quem não sente

Fernando Pessoa escreveu em seu Livro do Desassossego, que a condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade, toda a ação é a projeção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projeção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir. Para agir é preciso que nós não figuremos com facilidade às personalidades alheias, às suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. Em outro momento, Pessoa afirma que o sentimento abre as portas da prisão com que o pensamento fecha a alma. Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica.

Hoje eu queria, na música "admirável chip novo", ter olhos de robô, parafuso e fluído em lugar de articulação, pensar que em vez de coração há uma pedra, tudo programado.


Músicas Viscerais




Chaoticwateland;
heart-shapedpig

1.Collective Soul-December
2.Motley Crue- Girls, Girls. Girls
3.Pink Floyd-Us and Them
4.the Beatles- While my guitar gently weeps
5.Pearl Jam-F*ckin’ Up (Cover)
6.Pink Floyd-The Narrow Way pt. 1
7.Pink Floyd-Pigs on the Wing pt.
8.The Who- Magic Bus
9.Kiss- Tomorrow and Tonight
10. Grateful Dead- West L.A Fadeaway
1. White Lies - To Lose My Life
2. Manic Street Preachers - My Guernica
3. In Strict Confidence - Love Kills
4. Moist - Silver
5. Manic Street Preachers - Journal For Plague Lovers
6. Alice In Chains - Down In A Hole
7. DIO - Dream Evil
8. Judas Priest - The Rage
9. Roger Waters - What God Wants (pt 1)
10. Twisted Sister - I Wanna Rock

1. Simon & Garfunkel - America
2. Paul McCartney - Monkberry Moon Delight
3. The Lovin’ Spoonful - Summer in the City
4. The Beatles - I Want to Tell You yeah that I’m going to kill you
5. Pink Floyd - Don’t Leave Me Now
6. Pink Floyd - The Thin Ice
7. The Who - The Punk and the Godfather
8. The Who - Happy Jack
9. Pink Floyd - Another Brick in the Wall 
10. Paul McCartney - Ram On

1. (Don’t Go Back To) Rockville - R.E.M.
2. The Miracle - Suicidal Tendencies
3. A Song For While I’m Away - Thin Lizzy
4. Camarillo - Fear
5. Sean’s “In The Sky” - John Lennon
6. Vida Desgraçada - Cólera
7. Controlled By Hatred - Suicidal Tendencies
8. Black Diamond - The Replacements
9. Do You Want to be Loved - Samiam
10. Street Crab - Helmet


>>> Vi num tumblr muito legal, vale a pena dar uma conferida: http://mastix.tumblr.com

Meu alento.

Eu não queria que eles tivessem ido embora do jeito que foram. As pessoas deveriam ir embora e levar tudo com elas, inclusive as lembranças, mas isso nunca acontece e acabamos por nos agarrar às lembranças para sobreviver. Sei muito bem que as nossas condições não favoreciam uma história de amor daquelas com direito à flechada de Eros e sons de violinos ao fundo. Nós nunca iríamos ser felizes, mas por incrível que pareça eu morro de rir das nossas atrapalhadas. Eu lembro que a gente era natural, a coisa fluía. Sempre o que aquece o meu coração são as lembranças dos bons momentos que passávamos conversando. Todo mundo devería sentir essa sensação: de saber como é bom ser você, sem censura ou repressão, livre.

Preciso ler novamente "Amor nos Tempos de Cólera", de GGM. "... mas se deixou levar pela convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos." 

Talvez você tenha mesmo razão.

Hoje foi um dia muito importante. Eu sempre esperei por esse momento, e ele chegou assim mesmo: de repente. Eu consegui! No meu coração não cabe tanta felicidade, fico rindo à toa. Eu tenho paz. Mas faltava compartilhar com outras pessoas que eu sei que se preocupam e se importam comigo.
E assim eu desejei aquela aparição, como eu quis aquela aparição!
O fim desta tarde, o sorrisão estampado na cara e eu ali na porta, em pé, perto do portão, celebrando uma vitória que era minha, e de todos que torcem por mim. Sentada no chão da calçada, fazendo planos bobos, rindo à toa, pro nada... Ai! como eu quis aquela aparição, como eu quis aquele vento gostoso que de vez em quando aparece pelas tardes de junho, nos fazendo únicos. Posso até estar fantasiando demais deixando a realidade de lado; romântica demais e racional de menos. Talvez eu veja mesmo poesia e emoção demais em qualquer gesto de carinho, de atenção e amor...

A sua

"Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás
Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem"

[A sua/ Marisa Monte]


O meu amor é líquido porque ele pode se esvair na próxima vista, ou não. O meu amor é calado e paciente, e não acredita nas horas do fim, pois tudo é começo e a novidade sempre gosta de surpreender.

Demônios

O sono da razão produz monstros (Goya)

Os demônios atacam na madrugada quando todos dormem,
eles não gostam do céu azul nem dos dias ensolarados.
Os demônios são possessivos e teimosos, te perseguem na sala de jantar,
batem na porta e mesmo que os ferrolhos não os deixem entrar,
eles acabam arrumando um jeitinho de chegar perto de você.

Três vezes,
todas as portas e portões (pretas e vermelhas de aço e ferro)
se fecharam, impediram a minha fuga.
Mas eu não deixei que me aprisionassem...
minhas mãos eram poderosas
e destruí as portas e os portões
como quem rasga papel.

Os demônios te perseguem na rua,
te olham em cada ponto da cidade,
se escondem no meio das pessoas.
Eles estão no parque de diversões.
Eles ficam à espreita, ao entardecer, à noite ou de madrugada
e se não somos espertos, eles nos causam muito mal, muita dor.
Mas eles não te tocam, eles são asquerosos.
Tem o corpo coberto de escamas,
ou são velhos demais para conseguir nos tocar.

No máximo tentam nos amedrontar, nos enlouquecer.
Eles não podem nos tocar, mesmo assim,
é preciso ter sorte, para que antes que eles te infernizem,
algo invísivel os mate, ou os desmaterialize.



monólogo

Lendo uns diários antigos, me deparei com esse monólogo lindo escrito em 2002. Decidi publicá-lo pela singularidade e por ser tão atual para mim hoje.

*

Onde eu comecei esse épico sem fim?
Foi quando me recusei a esquecer?
Foi quando insisti em me lembrar...?
Tudo que sei é que não vou me desculpar.
Não vou implorar por sua liberação que eu não preciso.
As chaves da minha cela estão comigo,
Eu me tranquei nessa sala, um solo,

MONÓLOGO:

Não vou me desculpar por me preocupar e por ser gentil
Todas as noites quando deito na minha cama
não sei mais o que pedir.
Se quero acordar e te esquecer
ou
acordar com vc do meu lado.
Quando os raios do sol invadem meu quarto
nada é como sonhei.
Não lembro se sonhei que você me amava
ou que tinha te esquecido.
Os momentos mais felizes da minha vida
são os preciosos segundos em que eu não sei
São fragmentos em que eu me permito
A benção da alienação e ignorância.
Pontos numa reta.
Essa dor que eu sinto me cansa
Como um atleta que corre uma maratona sem fim,
afinal, que se perde no último minuto.
Talvez jogar tudo para o alto seja a solução,
talvez não.
Eu queria gritar mesmo sabendo que você não pode ouvir
Afinal isso é um monólogo
Já sei como terminar:
Eu naõ vou me sentir miserável
e nem pedir perdão pelo que sou.
Eu naõ vou me desculpar por te amar.


 


Morrerei cheia de uma vida vazia?

Minha alma anda triste
Canta as dores da vida
Vida vazia, que ainda esta pra nascer.

O inevitável se aproxima
Quiça seja possível mudar o futuro que vislumbro
Parece impossível.

Uma mesa de madeira, uma cadeira de balanço
Um livro me espera, para o pior da vida...
Longe de tudo que se planejou,
Eu naõ sei se há um par.


"Delírio"


Não vou buscar a esperança na linha do horizonte
Nem saciar a sede do futuro da fonte do passado
Nada espero e tudo quero
Sou quem toca, sou quem dança
Quem na orquestra desafina

Quem delira sem ter febre
Só o par e o parceiro das verdades
À desconfiança


[secos&molhados]

O vestido de noiva


Alessandro não passava dos dezoito anos, usava um boné cinza, e do seu lado eu poderia ter toda a segurança do mundo! Eu gostava daquela marca que ele tinha perto do olho esquerdo. Ele era o meu amigo especial (como falam os mórmons) e a gente se dava muito bem, isso o fazia diferente dos outros garotos. Era uma mistura de amizade e amor, quando falo "amor" é no sentido mais puro, mais casto. Era motivante acordar cedinho e ir de bicicleta pro colégio, só porque eu sabia que ele estaria lá me esperando para voltármos juntos. No caminho apostávamos corrida e de vez em quando ele me deixava ganhar. Era tão bom... poderíamos ser bons amigos hoje. Nós tínhamos muitos amigos em comum, uma galera boa, que gostava de se reunir a noite na calçada, brincar de detetive e ladrão, jogar baralho, bola e outras tantas vezes conversar horas a fio... A gente era assim, simples e feliz, parecíamos viver numa redoma pois compartilhávamos dos mesmos ideais, das mesmas vontades.
Um dia nós crescemos, descobrimos que além de existir um mundão lá fora para desfrutar, haviam outras pessoas especiais, outros sentimentos alguns bons, mas outros muito ruins...
Essa noite eu voltei num tempo que eu poderia ter escolhido pra mim.

Sobre ruas e grades

"You lock the door
And throw away the key
There's someone in my head but it's not me.
And if the cloud bursts, thunder in your ear
You shout and no one seems to hear.
And if the band you're in starts playing different tunes
I'll see you on the dark side of the moon."

"Você tranca a porta
E joga a chave fora
Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu
E se a nuvem explodir, trovejar em seu ouvido
Você grita e ninguém parece ouvir
E se a banda em que você está começar a tocar melodias diferentes
Eu te verei no lado escuro da lua"
[Brain Damage - PinkFloyd]

Eu lembro que na primeira década do ano 2000, eu poderia andar sem problema pelas ruas da minha cidade de madrugada. Eu e Jenny, tínhamos pensamentos bastante parecidos e gostávamos de ficar até de madrugada em lanchonetes, ou quiosques que perfilavam a Av. São Sebastião. Outras vezes saíamos andando pela cidade sem rumo, fazendo previsões sobre o futuro ou lamentando nossas desgraçadas vidas recheadas de amores imperfeitos e mal resolvidos... Nós estávamos no 5° bloco da faculdade de pedagogia, mas sempre pensamos que pedagogia ainda era pouco, faltava paixão pela leitura, dedicação e amor no que a gente fazia...Certo dia decidimos tomar rumos diferentes: eu História e ela Biologia. Jenny acabou enveredando para Fisioterapia.
Mas o fato é que hoje me espanta como a minha cidade esta crescendo e ficando violenta, eu tento entender isso me indagando constantemente... Seria a educação? Seria a família? Seria a rebeldia? Seria a desigualdade social? Revolta? As políticas públicas? Quantas vezes eu ja quis sair como eu fazia antes!!! Caminhar altas horas por essas ruas e becos, sentido o vento frio no corpo, parando em qualquer barzinho desses e bater um papo legal, com uma companhia legal, sossegar... Eu me pergunto até que ponto o progresso associado à velocidade das novas tecnologias podem influenciar numa vida realmente confortável e de qualidade.

Felicidade?

Respiro a única felicidade que sou capaz - uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo (...) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas - tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só.

[A. Camus]

Um novo rumo.

O que fazer quando você esta prestes a pegar um ônibus para Teresina para apresentar um trabalho num congresso e esse ônibus é o último que pode chegar a tempo para a sua apresentação, e você ainda o perde? Eu estava com tanta fome! Comprei 2 coxinhas e coloquei dentro de um saco plástico, quando abri o saco na mesa de um outro bar na rodoviária tinha muito mais, pensei: "Vou comer uma"...
Perdi o ônibus, era noite. Eu não poderia ficar ali sozinha. Decidi tomar um novo rumo, ir para qualquer lugar! Afinal, ontem uma vizinha que eu até então não sabia que era minha vizinha foi na minha casa... era mais ou menos 7:00h p.m., sentamos na mesa e tomamos café, não trocamos uma palavras, mas o importante é que tomamos café. Agora ela esta em sua casa, em sua outra casa, em outro lugar que não é Teresina, nem Parnaíba. Eu vou pra lá.
Sentei na poltrona do ônibus, e depois de passear por aquela cidade estranha e grande, vi um moço negro, careca e de terno branco dançando na calçada com uma mulher magra e vestida de vermelho. O ônibus parou e eu fiquei tão encantada, que decidi desembarcar ali mesmo.
No mesmo instante ele me convidou para dançar, eu e ele dançamos muito e eu me surpreendi comigo, pois eu dançava muito bem. Dançamos tango, e eu fiquei amiga dos dois e resolvi ajudá-los numa apresentação que eles iam fazer, e não é que eles acabaram ganhando o prêmio???
Saí correndo, e peguei um outro ônibus. Quando cheguei na casa da minha vizinha, eu não lembrei do nome dela. Mas po! Ela tomou café comigo ontem, e com certeza deve lembrar de mim... Era muito tarde, eu estava cansada, eu queria ir pro quarto. E ainda bem que ela me acolheu!
Eu achei estranho: ela tinha uma coleção de campainhas atrás da porta do quarto dela, e todas funcionávam!!!

Todo mundo muda

Você se foi daqui, logo você irá desaparecer
Sumindo em uma luz bonita
Porque todo mundo está mudando, e eu não me sinto bem.
Tão pouco tempo...
Tente entender que eu estou tentando fazer um movimento 
só para continuar no jogo
Eu tento ficar acordado e lembrar o meu nome
Mas todo mundo está mudando e eu não sinto o mesmo.

[Keane, Everybody's Changing]
E ela ficava ali sentada, na beira do sofá, com as mãos pousadas no colo e os olhos caipiras azuis-esfumaçados fixos numa expressão assustada porque estava num pardieiro cinzento e maligno de Nova York do tipo que tinha ouvido falar lá no Oeste, e ela ficava ali pregada, longilínea e magricela como uma daquelas mulheres surrealistas das pinturas de Modigliani num quarto sem graça. Embora fosse uma gatinha, ela era terrivelmente estúpida e capaz de coisas horríveis. Aquela noite todos nós bebemos cerveja, jogamos queda-de-braço e conversamos até o amanhecer e, de manhã, enquanto fumávamos em silêncio baganas dos cinzeiros na luz opaca de um dia sombrio, Dean levantou-se nervosamente, andou em círculos, pensativo, e decidiu que a melhor coisa a fazer era mandar Marylou preparar o café e varrer o chão: "Em outras palavras, garota, o que estou dizendo é: temos mais é que entrar na dança rapidinho, do contrário, a gente fica aí numa flutuante, sem cair na real. e nossos planos jamais se cristalizarão". Aí, eu caí fora.

[trecho de On The Road, Jack Kerouac]
Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder o que não dá mais pra ocultar! E eu não posso mais calar, já que o brilho desse olhar foi traidor e entregou o que você tentou conter, o que você não quis desabafar e me cortou. Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar e se perder e se achar, e tudo aquilo que é viver ... Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim como se fosse o sol desvirginando a madrugada. Quero sentir a dor desta manhã nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando feito louca, alucinada e criança, sentindo o meu amor se derramando. 
Não dá mais pra segurar, explode coração!

[gonzaguinha]

Versos Íntimos

"Cético em relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, / Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se converte em ódio, as coisas despertam nojo...". (*Retirado do site: http://www.releituras.com/aanjos_versos.asp).

Ontem pensei muito em Augusto dos Anjos, em especial, no seu poema "Versos Íntimos". Lembrei de um tempo onde eu e Janaína no 1º ano do Ensino Médio ficávamos recitando e rindo. Hoje, eu sei muito bem da verdade crua que esse poema aflora. O poema foi escolhido para o livro "Os 100 Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi. Está na página 61. 


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
 

Muros e Grades

"Levamos uma vida que não nos leva a nada
Levamos muito tempo pra descobrir
Que não é por aí... não é por nada não
Não, não pode ser... é claro que não é, será?
(...)
Viver assim é um absurdo como outro qualquer
Como tentar o suicídio ou amar uma mulher"

Tenho consciência do caminho a seguir, da atitude a tomar. O caminho é duro, e mesmo sabendo que mais tarde isso vai passar e que essa angústia vai ter uma trégua, estou amordaçada e teimo em continuar na mesma. Comigo é difícil e complicado porque tudo se acaba quando eu sinto que eu não sou mais eu; quando eu perco a minha identidade; quando sou moldada. Tudo se acaba.

Crônica

já não passa nenhum carro por aqui
já não passa nenhum filme na tv
você enrola outro cigarro por aí
e não dá bola pro que vai acontecer
mais um pouco e mais um século termina
mais um louco pede troco na esquina
tudo isso já faz parte da rotina
e a rotina já faz parte de você
você que tem idéias tão modernas
é o mesmo homem que vivia nas cavernas
todo mundo já tomou a coca-cola
a coca-cola já tomou conta da china
todo cara luta por uma menina
e a palestina luta pra sobreviver
a cidade, cada vez mais violenta
(tipo chicago nos anos quarenta)
e você, cada vez mais violento
no seu apartamento ninguém fala com você
você que tem idéias tão modernas
é o mesmo homem que vivia nas cavernas

O encontro

"Depois de ter vivido o óbvio utópico: te beijar. E de ter brincado sobre a sinceridade e dizer quase tudo quanto fosse natural... Eu fui praí te ver, te dizer: Deixa ser! Como será quando a gente se encontrar? No pé, o céu de um parque a nos testemunhar. Deixa ser como será! Eu vou sem me preocupar, e crer pra ver o quanto eu posso adivinhar."
"Hoje cedo (...) desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena... No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma."
Simone de Beauvoir



Para a minha inspiração.

"Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face; sem corpo da paixão da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar..."

CaioF.Abreu.

Insana

Eu pensei em encontrar uma palavra das várias que passaram pelo meu pensamento enquanto eu ouvia Dream Theater cantar Dark Side of the Moon. Mas fiquei muda. Múltiplas sensações foram processadas, impossível organizar. Cheguei em casa e procurei - da mesma forma como alguém procura água quando tem sede - um texto para aliviar essa angústia... Alguém deve ter sentido isso, talvez Nietzsche:


"E os que foram vistos dançando 
foram julgados insanos 
pelos que não conseguiam ouvir a música."



O dia seguinte.



"Já fazia um longo tempo em que eu não pensava nela, mas o sentimento ainda estava lá. Que marca profunda ela deixou em meu coração! Nenhuma outra imagem pode substituir a dela. Será porque ela tomou o meu primeiro beijo, porque tirou o perfume da vida de mim? Será porque mentiu, me iludiu, porque um dia me tirou as vendas dos olhos e eu vi a cabeça de Medusa, vi a vida como um grande horror? Tudo o que eu via como uma névoa de rosas, agora parecia vazio e cinza... aqui senti a infelicidade incandescente do amor... senti os carrascos... e fiquei quase insano por muitos anos... a natureza gritava em meu sangue... eu estava a ponto de explodir." 

[Edward Munch]

Como um Sol em mim...

"Viver a divina comédia humana onde nada é eterno."

Talvez Belchior traduza nesses versos o que eu senti um dia, numa noite.
Quando eu abri os olhos estava numa casa. A minha casa. Toda mobiliada de modo bem simples, a medida que eu a percorria ela ficava mais bonita, mais moderna. Um moço, alto, bonito fazia promessas de uma vida cheia de felicidade... Eu vivia aquilo como se estivesse despertado naquele momento, as coisas pareciam ter acontecido numa velocidade sem precedentes que nem pude acompanhar... É como se eu tivesse dormido um longo sono e acordado subitamente, isso me proporcionou gradativamente a noção da gravidade da situação em que eu me encontrava.
Eu não lembrava da minha vida até ali!
Eu sempre soube que ele poderia fazer qualquer mulher sentir-se bem, no entanto, a sua educação, a sua generosidade, o seu amor - ou sabe lá o que era aquele sentimento cego - era tão grande, tão forte que me sufocava! Eu me sentia invadida, e me deixava mal o fato de não ter sido consultada antes da tomada de todas aquelas decisões: a casa, os móveis, o anel, a festa...
O pior é que eu não sabia como falar para ele que queria a minha vida de volta, que preferia essa realidade bem aqui.


"A beleza é mesmo tão fugaz" ?

Uma vez eu conheci um visionário, que despertou sonhos e ideologias em certas 'mentes brilhantes do amanhã'. Nos sentimos pessoas únicas, confiantes. Essencial para que soubéssemos, por um lado, que realmente a união tem poder, força; por outro lado, dentro dessa união sempre há interesses individuais, alguém sempre vai levar vantagem nisso pois tudo tem um sentido. Quando abri os olhos, era uma outra verdade e meu sonho despedaçou-se em ilusão...Fazemos parte de uma teia, uma espécie de comunicação invisível e interligada. Tudo é interesse. Olhe o nosso mundo hoje. Politicagem, falsas ideologias e interesses mesquinhos. A semente foi mal plantada e da flor, pétalas deformadas nasceram. Naquele tempo, eram problemas bem pequenos que no auge de uma eloquência sedutora nem percebíamos que éramos reduzidos à uma boiada.Seríamos iguais em desgraça?
Hoje me pergunto qual o saldo daquele luta... Seria mesmo, aquele ato isolado tão importante para o futuro de nossas vidas?
Ou seria somente um capricho de um ego inflamado?
Mas isso agora é passado... já esta feito.
Hoje são outros interesses, e estou disposta a contribuir para mudar essa outra realidade. No mais, lamento pelas pessoas de alma mesquinha, reservadas em seus mudinhos e que preferem remoer seus pequenos problemas.

Reminiscências

E se em vez de palavras, fossem beijos? Em vez de sorrisos... sussurros?
Tanta conversa! Política, filmes, música, livros...
Foi só uma quimera.

Ele me seguiu, veio aqui na minha porta mas eu não abri.
Eu preferi sair pelos fundos da casa e ir ao seu encontro.
Ficamos cara a cara.
Ele, com a bola no pé e de frente pro gol...

Hesitação.
Silêncio.
A magia não aconteceu...

Se era pra ser, não foi.

Entregar-se

"E como numa orgia, como num vício, como numa tara, 
como num inconfessável ritual sadomasoquista
Ele entregava-se aos blues amargos, cafés fortes, tabacos lentos" 

Comigo

Sinto-me impotente.
Penso no que poderia ter sido.
"Como poderia ter sido?"
O destino não passa de escolhas.
E seu eu tivesse uma segunda chance?
Eu arriscaria.

A condição humana

O fato de que o homem é capaz de agir
significa que se pode esperar dele o inesperado,
que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável.
E isto, por sua vez,só é possível porque cada homem é singular,
de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo.
Desse alguém que é singular pode-se dizer, com certeza,
que antes dele não havia ninguém.
Se a ação, como início, corresponde ao fato do nascimento,
se é a efetivação da condição humana da natalidade,
o discurso corresponde ao fato da distinção 
e é a efetivação da condição humana da pluralidade,
isto é, do viver como ser distinto e singular entre iguais.



Hannah  Arendt  

Eu, sentimental...

"De tanto eu te falar, você subverteu o que era um sentimento e assim fez dele razão pra se perder no abismo que é pensar e sentir. Ela é mais sentimental que eu! Então fica bem se eu sofro um pouco mais... Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria.
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim! Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir."

[LosHermanos]







Via-Lactéa

 Ultimamente ando tão "Via-láctea"...


"Hoje a tristeza não é passageira
E quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima... 
Queria ser como os outros, 
e rir das desgraças da vida ou fingir estar sempre bem, 
Ver a leveza das coisas com humor.
É só hoje e isso passa. 
Só me deixe aqui quieto, isso passa.
Amanhã é um outro dia, não é? 
Eu nem sei porque me sinto assim, 
vem de repente um anjo triste perto de mim.
E essa febre que não passa, e meu sorriso sem graça..
Quando tudo está perdido eu me sinto tão sozinho,
quando tudo está perdido, não quero mais ser quem eu sou..."

[LEGIÃOURBANA]





Para quando você acordar.


Nenhum ser humano é blindado. 
Corações de pedra amolecem. 
Os brutos também amam... 

Máximas que afirmam uma verdade: ninguém é feliz sozinho.
Crianças crescem, pássaros um dia voam, pessoas mudam...
Que seja piegas todo esse discurso, mas no fim, você verá 
que todo ser humano só quer alguém que o compreenda, 
que o faça sentir-se vivo, especial, enfim... amado.


Henri Cartier-Bresson




Orítia

"Não te amo como se fosse uma rosa de sal, 
topázio ou flecha de cravos que atiram chamas.
Te amo como se ama certas coisas escuras, 
secretamente, entre a sombra e a alma.
Eu te amo sem saber como nem quando nem de onde, 
te amo simplesmente, sem complicações nem orgulho. 
Assim te amo porque não conheço outra maneira, 
tão profundamente que tua mão em mim é a minha, 
tão profundamente, que quando fecho os olhos contigo eu sonho".

[A dança/Neruda]


Hoje depois de uma noite juntos, Orítia chega em casa decidida à falar tudo que esta engasgado, proibido, censurado. Palavras ocultas e aprisionadas por simples capricho. Nunca houve uma reflexão sobre o que poderia levar Orítia a pensar, ou mesmo sentir, que já não é mais estimada??? Noites de insônia, dias de incerteza... a sorte esta lançada. E quando coisas ruins acontecem, quando Orítia é duramente ferida pela vida, pelo amor ou por qualquer outro truque dos humanos, ela fecha os olhos e pensa no que viveu do outro lado da cidade... docemente fulgaz. Acabou, mas o importante é que aconteceu.  Pelo menos ela possui a lembrança, para fugir enquanto a vida naufraga lentamente... 
Há futuro para Orítia?




Birutando...

"I'll sing of the walls of the well 
and the house at the top of the hill
I'll sing of the bottles of wine 

that we left on our old windowsill
I'll sing of the years 

you will spend getting sadder and older
Oh love, and the cold, the oncoming cold...
" *

Cliquot... /Beirut Band 









 * "Eu cantarei sobre as paredes do poço
e a casa no topo da montanha
Eu cantarei sobre as garrafas de vinho
que nós deixamos em nossa janela velha
Eu cantarei sobre os anos que você vai desperdiçar
ficando mais triste e mais velho
Oh amor, e o frio, o frio que se aproxima..."

 

Angústia.

"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"  
"Suporte técnico, eu quero acordar!" 
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"
"Suporte técnico, eu quero acordar!"

Alô, alô!
Um oráculo por favor!