Auto-retrato com Espinhos e Colibri 1940

"Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria."

"Acho que é melhor nos separarmos
e eu ir tocar minha música em outro lugar 
com todos os meus preconceitos burgueses de fidelidade." 

 

Sem Esperança 1945

Quem realmente se importa? Eu me importo!?

Será que o céu vermelho num fim de tarde lindo na praia é mesmo um sinal de mau presságio? Isaac falou isso enquanto contemplávamos as barracas à beira mar. Mas o céu rapidamente se transformou num lilás magestoso. Ele estava errado. O mal presságio talvez aconteceu por perdermos o ônibus pra Parnaíba. Mesmo assim ele estava errado: Voltamos de carona, na carroceria de um caminhão com a lua nos perseguindo, iluminando a estrada, o vento batendo na cara cheirando a mato e à aventura... Se não fosse aquelas cinco doses de Mangueira, acordar não teria sido deprimente e o dia amanheceria com gosto doce na boca...

Perguntas e perguntas me inquietam. Quem realmente se importa? Eu me importo!? 
Relações interpessoais são mais complicadas do que eu pensava. Até que ponto jogos de interesses e sedução interferem e dão sentido a nossa existencia? Amizade... No fundo nos preocupamos com o coletivo? Eu sou egoísta. Sinto-me estranhamente vazia, sem motivação, sem entusiasmo e sem a mínima vontade de fazer o que eu quero, evito ligar pra uns e outros, evito atenção (dar e receber). Quem realmente se importa? Eu me importo!?  Parece que há um perigo iminente. E quando vem o fim de tarde bate aquela sensação chata de que eu poderia ter feito mais, que eu poderia não ter insistido tanto. Angústia. Algo vai mudar se eu não curtir mais aquela música? Dispenso conversas em botequins, rir de mim, dançar ao som de the doors, ler qualquer coisa sobre os beats e seus derivados. Será que estou endossando aquela profecia? Volátil, cabeça dura? É... Maiakovski, a minha anatomia tb enlouqueceu. Cada pessoa é um mundo. Eu quero mais é encher os pulmões de ar limpo, viajar por mundos nunca dantes explorados, desconhecidos pra mim. Entenda: Reconhecer. Renovar. Recomeçar.
Quem realmente se importa? Eu me importo??

David: se eu abrir os olhos nos poderemos ficar juntos novamente?  
Sophia: talvez em outra vida quando nos formos gatos...
(Vanilla Sky)