No cinema fomos mais felizes que aqui.




Nós nem sabíamos que filme estava passando! Correndo, sendo levada pela tua mão sentamos nos dois lugares mais afastados, fugindo do tédio, da tristeza, da solidão, estávamos lá, e pouco importava saber quem era o mocinho ou o vilão, e muito menos se tínhamos algum compromisso... Deixamos tudo pra lá e nos olhamos como se fóssemos os dois melhores motivos pra estar ali, vivos. Não houve beijos ou algo mais, nada disso... Ficamos sorrindo um para o outro sem parar, um sorriso silencioso, mas cheio de satisfação, contentamento, e um prazer que se cristalizava somente pela própria companhia. Acabou. Tão curto! Deixou saudade e a lembrança do que eu não vivo. Eu vi o brilho do teu olhar que era parte do meu refletido. O brilho da satisfação, de querer estar junto custasse o que custasse, doesse a quem doesse, correndo com pressa, chovendo, de madrugada, a pé.  Eu já vi esse brilho nascer, contagiar e tristemente morrer.
Esta é uma quinta-feira blue, de cinzas, vazio, buraco, solidão, introspecção. 
... Assisto a um filme legal no cinema, no final da sessão penso que foi o melhor filme da minha vida, compro uma cópia e passo a assisti-lo frequentemente, daí vem o tédio, a perda do entusiasmo, do encanto, da magia. Surge um novo filme e me arrebata, aquele filme de outrora, legal, passa a ser somente "um dos melhores que eu assisti".
Acordei sozinha depois de um longo sono. 

Essa noite eu coloquei Pink Floyd só pra lembrar de como tudo começou... 

"Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui/ Somos apenas duas almas perdidas/ Nadando num aquário/ Ano após ano/ Correndo sobre este mesmo velho chão/ O que encontramos?/ Os mesmos velhos medos/ Queria que você estivesse aqui" (wish you were here).

"Possues o brilho da paz bendita..."

Eu começo a te sentir diferente, algo em ti passa a me chamar atenção, te olho agora com outros olhos, o que passava antes despercebido agora faz toda a diferença. O bem estar que eu sempre procurei está bem aqui, eu fico feliz pela demora ter findado hoje e um pouco triste por não ter sido antes. Talvez os meus antigos amores serviram como uma linha de condução pra que eu encontrasse e sentisse esse prazer novo, que há tanto tempo eu desejava e que nem imaginei que ia reconhecê-lo em ti. Talvez, essa paixão tenha nascido do sentimento de pertencimento latente, que agora ressoa. Como se fosse Zéfiro, teu sopro envolveu meus cabelos, rosto e corpo, uma brisa acochegante que poderia me ninar. Eu nem penso mais nos confins do mundo, eu quero é descobrir teus segredos, estar contigo quando o céu capturar a fuga do sol deixando seus últimos vestigios nos oferecendo uma visão paradisíaca, te fitar quando começar a despontar na imensidão azul o mesmo sol, na sua soberba, nos brindando o dia com um lindo espetáculo de raios. Diante dessa sensação, eu fico a pensar onde eu estava esse tempo todo, afinal, você não me interessava nem um pouco! Ah, provinciana Parnaíba!

Uma poesia de um querido amigo...



Paradoxo Vital

Chegada onde talvez procurasse
Procura do que nunca achava
Mas ao achar, ver que chega sem saber
Saber do real sentido de existir

Viver sem saber pra onde ir
Ir buscando um lugar
Busca de um motivo para andar
Andando no intuito de um lugar

Quando tudo parece morrer
Nasce um motivo para sorrir
Sorrir da maneira de viver
Viver e não se deixar cair
O destino a dor, amores pelo caminho
Caminhos entrelaçados
Vidas amordaçadas
Amordaças favoráveis

Se não houvesse o paradoxo
Paradoxal seria
Como ficaria a morte
Se viver não adiantaria? 

(Ciro Neves)