Não quero saber de previsão.
Eu só preciso dos dias. Sucessivas dádivas.
Seria insanidade brincar de ser feliz?
Há instabilidade e uma alegria volátil. 
Uma cama, uma janela cinza, um relógio mentiroso que marca 21:11.
David Gilmour canta no meu ouvido "On an Island".
Posso ir para qualquer lugar.
Ir embora, escolher à minha própria maneira.
Partir talvez seria a melhor forma de achar o caminho para o seu sorriso
e piorar definitivamente as coisas pra mim.
Algo aqui dentro ainda brilha, então... deixa estar.

Eu também ouço sinais

Telepatia.
Pareço triste.
Eu só pareço... tudo é saudade ou vontade.
Nessas horas eu prefiro a introspecção.
Eu prosa sou muitas, mas comigo, sou tentada.
Estou em busca de algo que não sei exatamente o que é,
talvez isso seja o mal dos modernos,
talvez queira apenas um lugar para meu amor repousar.
O pior é que nem ao menos o primeiro passo consigo dar.
Há pessoas que fingem estar em movimento.
O irônico é que estão exatamente paralisadas.

Diante dos meus olhos vejo a vida apresentar-se muito variada, as pessoas totalmente descompromissadas com a eternidade e em suas caras,
a verdade crua estampada: nada foi feito pra durar.
Lembrei daquele poema de Nei Duclós "Salvação" do livro Outubro, 1975:

"Estar a salvo
não é se salvar.
Como um navegador
que vai até onde dá
você tem que ser livre
para o que pintar.
Nenhuma pessoa é lugar de repouso
juntos chegaremos lá."


"Nenhuma pessoa é lugar de repouso"...

Seriam estas as relações pragmáticas?
Que por serem francas, seriam as mais excitantes?
Não entendo por que estamos nessa procura desenfreada.
Se é excitante, deveria ser o paraíso.
Afinal se você não estiver feliz é só juntar suas coisas e dizer bye, bye.
A verdade é que nem tudo é simples assim,
depois das atitudes impensadas o gosto amargo que fica na boca é bem pior.

"Juntos chegaremos lá" 

Ninguém é fortaleza, ninguém sai tão incólume ao trocar o romantismo pelo ceticismo.
Somos "modernos", mas ainda procuramos alguém pra nos acalentar,
para interromper nossas buscas, alguém para ser nossa pátria.
Não é o ciúme ou a possessividade que mede a grandeza de um sentimento.
São atitudes e gestos que para muitos é perca de tempo ou bobagem. Algo esta acontecendo quando o que mais se quer é estar perto, seja caminhando, seja de madrugada conversando coisas que não tem nada a ver; seja quando um sorriso tímido surge depois de uma briguinha, ou mesmo, como disse o poeta, "ouvimos as estrelas" encarando-as deitados na areia da praia depois de um mergulho.
Mede-se a grandeza de um sentimento em apenas sentir a beleza de estar junto.
É quando temos certeza daquela sensação única e mútua entre duas pessoas, que não estão nem aí para a modernidade, nem para o "Felizes Para Sempre". Fazendo um do outro seu lugar de repouso, alguns chamam isso de trégua, outros de amor.