"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas".
MANOEL DE BARROS
em Livro das Ignorãças.
em Livro das Ignorãças.
***
"Li em Chestov que
a partir de Dostoievsky
os escritores começam a luta
por destruir a realidade.
Agora a nossa relidade se desmorona.
Despencam-se deuses, valores, paredes…
Estamos entre ruínas.
A nós, poetas destes tempos,
cabe falar dos morcegos
que voam por dentro dessas ruínas.
Dos restos humanos
fazendo discursos sozinhos nas ruas.
[...]
Porém a nós, a nós sem dúvida -
resta falar dos fragmentos,
do homem fragmentado que,
perdendo suas crenças,
perdeu sua unidade interior."
a partir de Dostoievsky
os escritores começam a luta
por destruir a realidade.
Agora a nossa relidade se desmorona.
Despencam-se deuses, valores, paredes…
Estamos entre ruínas.
A nós, poetas destes tempos,
cabe falar dos morcegos
que voam por dentro dessas ruínas.
Dos restos humanos
fazendo discursos sozinhos nas ruas.
[...]
Porém a nós, a nós sem dúvida -
resta falar dos fragmentos,
do homem fragmentado que,
perdendo suas crenças,
perdeu sua unidade interior."
MANOEL DE BARROS
em Retrato do Artista Quando Coisa