A memória é uma ilha de edição.

Esgotado o eu, resta o espanto do mundo não ser levado junto de roldão. 
Onde e como armazenar a cor de cada instante?
Que traço reter da translúcida aurora?
Incinerar o lenho seco das amizades esturricadas?
O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?

A vida não é uma tela 

e jamais adquire o significado estrito que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia encerra uma moral.
Ela é recheada de locais de desova, presuntos, liquidações, queimas de arquivos,divisões de capturas, apagamentos de trechos, sumiços de originais, grupos de extermínios e fotogramas estourados. Que importa se as cinzas restam frias ou se ainda ardem quentes se não é selecionada urna alguma adequada, seja grega seja bárbara, para depositá-las?