A vida é doce, depressa demais!

Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento no seu último vestígio, no território da sua presença, impregnando tudo que eu não posso, nem quero deixar que me abandone.
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro, no presente que tritura as sirênes que se atrasam pra salvar atropelados que morreram, que fugiam, que nasciam, que perderam, que viveram tão depressa... A vida é doce, depressa demais.
E de repente o telefone toca e é você do outro lado me ligando, devolvendo minha insônia minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui a coisa mais brega que pousou na tua sopa. Me perdoa daquela expressão pré-fabricada de tédio, tão canastrona que nunca funcionou, nem funciona...
Me perdoa, a vida é doce.

[Lobão]

Sobre a imaginação


Das faculdades humanas a imaginação é a mais preciosa, exatamente por sua imensa capacidade de nos manter suspensos ou de nos apaziguar perante a adversidade; (...) relendo antigos tratados de retórica, Edmund Burke mostrava, em meados do século XVIII, estar na imaginação a esfera mais vasta do prazer e da dor, por sediar a região de nossos medos e de nossas esperanças, de todas as nossas paixões, e deter a imaginação o poder maior na produção da felicidade, pouco afeita ao restrito domínio da razão.

As máscaras do medo: lepra e Aids
Ítalo A. Tronca - p.13