Limiar

De calças jeans, camisa de manga longa, casaco de moletom, tênis e ainda com aquela touca preta, saímos pela estrada. Você com aquela boina branca "estilo italiana negra" tentava me acompanhar pelo campo. Era crepúsculo, escurecia pouco a pouco... Aos poucos, no meio do mato aparecia um coreto que estava mais para um pátio de colégio: chão de cimento e teto com telhas já desgastadas. Havia muito mato, e cada vez mais escurecia.

Você conversava comigo pelo caminho aparentemente tentando me convencer a ir nesse "centro de recuperação", nessa espécie de purgatório, mas eu não hesitava em te seguir...
 Encontramos um muro no meio do nada, e logo à frente um portão que tinha a largura de uma porta. Você abriu e entrou primeiro. Pelo que vi, havia mais mato e fiquei meio preocupada, pois apesar de ainda estar um pouco claro, escurecia muito rápido...


Você olhou para trás e sem falar nada me chamou para entrar também. 
Mas eu não consegui. Senti uma mão forte segurar meus ombros e me puxar para trás. 

No mesmo instante fui levada para uma outra dimensão... Um quarto de hotel em Buenos Aires que mais parecia o inferno, muito fogo, fumaça, mãos tentavam escalar a parede, sombras, mãos escuras, muitos gritos, muitos pedidos de socorro. Sussurros no meu ouvido, pedidos de clemência e mais chamas, o quarto estava em chamas... Enquanto isso eu estava amarrada numa cadeira e tentava comunicação, tentava sair dali, pedir socorro, mas quanto mais eu gritava, menos a minha voz saía e eu sufocava...

Então, como num despertar de um pesadelo, quase perdendo as energias, algo saía pela minha boca numa velocidade muito rápida! E a medida que isso saía, as cordas afrouxavam e então pude voar e voltar.