O inquietante "Le Seaphondie et Papillon"

Imagine-se paralisado da cabeça aos pés,
porém intelectualmente lúcido.
Sendo que o único meio de manter um mínimo contato externo
é através do seu olho esquerdo:
1 piscada 'sim' e 2 piscasdas 'não'.
Estou falando do filme "O Escafandro e a Borboleta".
Baseado no livro que conta a verídica história de
Jean-Dominique Bauby, ex-redator chefe da revista Elle.
*

Jean-Do, como era chamado pelos amigos teve o seu veredicto após um acidente vascular cerebral. Sem dúvida o que fascina nessa obra é o sarcasmo sutil e o humor ácido do protagonista... sem falar do exercício inimaginável que ele fez por não ter condições físicas de escrever e reescrever seu livro até chegar a frase perfeita.

*

Sua força de vontade é algo claustrofóbico!

*

Ele tinha duas escolhas naquele momento, fazer algo em prol de si mesmo ou se entregar completamente e esperar a morte chegar... no entando, foi capaz de escrever um livro, piscou letra por letra, nos proporcionando conhecer a sua história, fazendo com que nos emocionemos e que pensemos em nossas vidas, nos levando a indagações sobre nossos momentos, o que temos, o que não temos e o que realmente é contrastante em nossa vida.

Em nenhum momento há apelo para o sentimentalismo ou para a lição de vida que transformariam a obra num dramalhão piegas ou em outro "auto-ajuda" desses que enchem o saco. Recomendadíssimo.

"Por trás da cortina de pano roída pelas traças,

uma claridade leitosa anuncia a aproximação da manhã. Doem-me os calcanhares, sinto a cabeça apertada num torno, e todo o meu corpo está encerrado numa espécie de escafandro. O meu quarto sai lentamente da penumbra. Observo pormenorizadamente as fotografias dos meus queridos, os desenhos das crianças, os cartazes, um pequeno ciclista de folha enviado por um camarada na véspera do Paris-Roubaix, e o cavalete que sustenta a cama onde estou incrustado há seis meses como um bernardo-eremita sobre o seu rochedo.

(...)

O escafandro torna-se menos opressivo e o espírito pode vagabundear. como uma borboleta.

Há tanta coisa a fazer. É possível elevar-me no espaço ou no tempo, partir a voar para a Terra do Fogo ou para a corte do rei Midas. É possível ir visitar a mulher amada, deslizar junto dela e acariciar o seu rosto, ainda adormecido. É possível construir castelos no ar, conquistar o Tosão de Ouro, descobrir a Atlântida, realizar os sonhos de criança e os sonhos de adulto."

(trecho do livro)



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“Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” (Dostoiévski)