A PALO SECO

"À palo seco" foi um termo cunhado em 1960 por João Cabral de Melo Neto contra aqueles que agiam de forma repressiva, buscavam reprimir o florescimento da cultura nordestina, a criatividade brasileira.
Esse termo surgiu como voz ativa contra a formatação e reforma que cada vez eram explícitos nos Festivais Culturais de Poesia e Música Popular nos tempos da ditadura.

"Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;
se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.
O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;
é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.

A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,
as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.
Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:
não de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.

João Cabral de Melo Neto



"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi: - Amigo, eu me desesperava [...]"
Belchior


Inspirado no poesia de João Cabral de Melo Neto, Belchior gravou em 1974 o disco "À palo seco" que também traz uma canção com o mesmo nome. No útimo trecho, Belchior tenta explicitar seu sentimento de revolta e resistencia contra a Ditadura: "E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês."

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“Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” (Dostoiévski)