"Viver a divina comédia humana onde nada é eterno."
Talvez Belchior traduza nesses versos o que eu senti um dia, numa noite.
Quando eu abri os olhos estava numa casa. A minha casa. Toda mobiliada de modo bem simples, a medida que eu a percorria ela ficava mais bonita, mais moderna. Um moço, alto, bonito fazia promessas de uma vida cheia de felicidade... Eu vivia aquilo como se estivesse despertado naquele momento, as coisas pareciam ter acontecido numa velocidade sem precedentes que nem pude acompanhar... É como se eu tivesse dormido um longo sono e acordado subitamente, isso me proporcionou gradativamente a noção da gravidade da situação em que eu me encontrava.
Eu não lembrava da minha vida até ali!
Eu sempre soube que ele poderia fazer qualquer mulher sentir-se bem, no entanto, a sua educação, a sua generosidade, o seu amor - ou sabe lá o que era aquele sentimento cego - era tão grande, tão forte que me sufocava! Eu me sentia invadida, e me deixava mal o fato de não ter sido consultada antes da tomada de todas aquelas decisões: a casa, os móveis, o anel, a festa...
O pior é que eu não sabia como falar para ele que queria a minha vida de volta, que preferia essa realidade bem aqui.