"Mulherzinha"






Posso até transparecer certa insensibilidade, mas quem me conhece sabe que sou à flor da pele. Não abro mão da minha delicadeza. O poeta Vinícius de Moraes costumava dizer que adorava os defeitinhos que tornavam uma mulher perfeita. Sou doce, tenra... Mas também intensa e visceral, o resto são “pezinhos de chuchu”, vaidades que vicejam na superfície de minhas emoções. Meu lado mulherzinha é carente, inseguro, simbiótico. Gosto de companheirismo, qualquer palavra amiga, escrever muito quando estou magoada, justificar meus draminhas com astrologia ou TPM. Passar horas admirando o céu, seja ele azul, cinza, estrelado ou pontilhado de urubus. Me derreto toda com apelidos carinhosos. Prefiro à pé, à noite e acompanhada. Dançar de rostinho colado. Carinho, muito carinho, principalmente no cabelo. Morro de amores, me entrego, me desarmo. Arrepio-me com o toque, com a música, com o olhar acompanhado das palavras certas, na hora certa.  Sempre acredito que a minha atual paixão é a última. Adoro bichanos, os filhotes são bem mais engraçados. Choro com filmes, livros... Aliás, choro/rio por tudo que toca minha alma entre surpresas, alegrias, decepções.
Faço charme. Fico ansiosa e como doces, fico estressada e só quero dormir. Não sou tão vaidosa, mas vou te contar um segredo: meu cabelo é meu humor. Tento ser organizada e perfeccionista. Fico abestalhada na hora errada e na frente da pessoa "errada"! Adoro canetas, coloridas ou não. Sou toda cheia de nhem-nhem-nhem,  gosto de ser mimada e de mimar o meu amor.  Gosto que se preocupem comigo, que notem detalhes que fazem toda diferença. Se quer me ver feliz, me dê flores e me faça viajar em declarações de amor. 
“Mulherzinha”, eu!? rsrs...

Uma efêmera Tempestade

Ela atravessa a rua com passos largos e a cabeça cheia de ideias. A ansiedade consome o seu ser a cada segundo de espera do lado de fora da porta. Pronto. A porta abre, ela sente um emaranhado de sensações. Expectativa. Dentre todas as sensações se sobressai a VONTADE. Queria mesmo era correr dali e ir para um outro lugar, mas não qualquer lugar... um lugar proibido. O que é um lugar proibido? Uma rua? Uma casa? Um porto? Um bar? Uma cama? Chegou a hora, não de ir para casa... mas de despejar toda vontade acumulada. O coração dispara, quase sai pela boca... Espera na sala. Uma espera que não finda... Inesperadamente, encontram-se. Ela procura nos gestos dele qualquer bandeira e no sorriso, algum sinal. Resistência, para quê?

Encontram-se, entregam-se... deixam escapar segredos.

Ela me surpreende muitas vezes. Tem um jeito manso... misterioso, mas também animalesco, parece saber o que quer, é cautelosa. Confusa? Talvez... mas eu sei que no fundo sabe o que quer. Eu sei que ela sai a passos largos por aí, só para roubar cada instante dos preciosos momentos de solidão dele. Fica atenta ao som da sua voz... doce e forte, e apesar de se ver na fala dele, não entende suas atitudes. Quem sabe são parecidos, e de uma forma ou de outra acabam se entendendo. No mais, até que a "dona da história" apareça, eles deliciam-se e ao mesmo tempo se divertem procurando possibilidades de uma conquista arrebatadora. Os risos misturam-se ao relembrarem os próprios desencontros, os amores imperfeitos, tudo é tão natural...
Bandeira me inquieta... pra quê procurar uma alma gêmea se a língua dos corpos expressa o desejo? Esse desejo que nada mais é que "o necessitar", instinto inerente de todo ser humano e que convenhamos, se manifesta de uma maneira muito mais interessante e até harmônica. Os corpos falam por si sós, "Deixem a alma para Deus".
Ela já se rendeu a muito tempo... fica numa louca procura pelo ópio, que nada mais é que o gosto e o cheiro do corpo dele. Não é proposital, e se existir acaso só assim posso entender o retorno dela, seja a passos largos ou não.



Se queres sentir a felicidade de amar, 
esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, 
mas as almas não. 
Manoel Bandeira