Recebi por e-mail de um amigo de SC, gostaria de compartilhar.
Retirado do blog do Eduardo Guimarães. Vale a pena dar uma conferida!
Todos os nossos semelhantes
"Se alguém ainda tinha alguma dúvida de que,
no Brasil, há várias classes de cidadãos,
o acidente com o avião da Air France
acaba de provar que essa
é a mais dolorosa de nossas verdades.
Uma verdade que muitos de nós
se recusam a ver porque nos envergonha.
Escrevo logo depois de ler
que o presidente da República em exercício,
José Alencar, acaba de decretar luto de três dias
pela morte de cerca de cinco dezenas de brasileiros
naquele acidente aéreo.
Nos últimos dias, o sumiço do avião sobre o Atlântico,
as especulações sobre o que teria acontecido,
os dramas pessoais decorrentes da tragédia e,
finalmente, a confirmação da morte daqueles cidadãos,
tudo isso foi alçado a um patamar
que terminou pondo a nação de luto.
Não tenho nada contra o país condoer-se
pelas vítimas dessa tragédia,
até porque me condôo da mesma forma.
São seres humanos, meus semelhantes.
Oponho-me somente a não haver luto oficial
ou comoção da mídia quando outras
cinco dezenas de brasileiros morrem
de forma tão ou mais trágica no Norte e no Nordeste
por conta de chuvas e inundações,
com o agravante de que a tragédia norte-nordestina
é de proporções muito maiores.
Famílias inteiras desabrigadas,
montanhas de feridos,
gente adoecendo gravemente.
Foram milhares os atingidos.
Pergunto: por que uma tragédia é menor do que a outra?
Se são tragédias no mínimo igualmente trágicas,
porque são tratadas pelo Estado
e pela mídia de forma tão diversa?
O que torna mais importantes
as cidadãos que estavam naquele vôo trágico?
A resposta a essas perguntas é dolorosa:
cor da pele e classe social. Ponto.
Não há dúvida sobre isso.
Há gente que será suficientemente calhorda para negar,
mas é lógico que, por haver quase uma totalidade
e negros, índios ou seus descendentes
entre os mortos do Norte e do Nordeste
- e por serem todos pobres -,
não merecem tratamento igual
ao da esmagadora maioria de brancos
de classe média alta que morreram no desastre aéreo.
Não estou contando nenhuma novidade.
Todos sabem que é assim no Brasil
e em tantas outras partes do mundo,
inclusive no mundo rico, e ninguém fala nada.
Aceitamos isso assim inclusive
porque se trata do nosso grupo social,
no caso do acidente aéreo,
com variações maiores ou menores de poder econômico.
Eu, pelo menos, não consigo aceitar esse tipo de coisa.
Não consigo me conformar.
Exijo de mim mesmo ficar indignado.
Não posso perder essa capacidade.
Não posso achar que seja
civilizado,
decente,
humano
tratar seres humanos de forma tão díspar.
E muito menos que todos aceitem calados
uma barbaridade civilizatória como essa."
Escrito por Eduardo Guimarães